sexta-feira, 19 de outubro de 2012


 
A ignorância não tem preço.
Para tudo o resto, temos o MasterCard.
 
 
 
 
 
Não há muito tempo, li num blog algo do género: "Gente deprimida não me comove. Dá-me nervos."
Ora vamos lá falar um bocadinho sobre isto.
Parece-me que esta pessoa precisa de redefinir os seus conceitos e perceber, de uma vez por todas, que a psicopatologia depressiva não é um estado de espírito nem tem um nome pomposo, porque fica bem. A depressão é uma doença. E é tão grave e séria como uma outra doença qualquer.
A frase é infeliz em vários aspectos, mas é-o, acima de tudo, porque revela muita ignorância, preconceito e falta de tacto.
A saúde mental dos portugueses anda a boiar na mediocridade do nosso sistema nacional de saúde e na ignorância geral das populações instruidas e não instruídas.
Os psicólogos, à excepção dos bons profissionais, adoptam métodos simples e pouco dinâmicos para o tratamento da doença. A psicoterapia é utilizada sem grande conhecimento das necessidades e personalidade individuais do paciente.
Quanto aos psiquiatras, das duas uma: ou entopem o pessoal com comprimidos potentíssimos, deixando o paciente drunfado durante horas, ou receitam algo levezinho à espera que aquilo faça um milagre.
O facto é que, e falando a título pessoal, não há uma educação para as relações familiares, afectivas e profissionais com o doente. O médico julga que ao receitar uns medicamentos a coisa se compõe e que o paciente vai para casa e, no caso da pessoa morar acompanhada, não tem de haver instrução direccionada para as relações.
Ninguém está preparado para lidar com uma psicopatologia depressiva. O doente vai-nos parecer uma pessoa estranha, violenta, fria e calculista. Ou pode também tornar-se numa pessoa chata, melguenta e efectivamente muito desiquilibrada, capaz de cometer atrocidades. No entanto, gente como a blogger anterior, julga apenas se tratar de manias e merdas de personalidade mal resolvida. E é essa mentalidade pragmática que é necessário mitigar, reeducar e consciencializar.
 
 
P.S.: Para quem precisa de se informar mais claramente a respeito do assunto, deixo uma referência bibliográfica. Li o livro há alguns meses e, apesar de ser técnico, é bastante simples e não é apenas direccionado para profissionais da saúde mental.
 
SOARES MONTEIRO, Ivandro; Depressão, Por que é que uns deprimem e outros não?; Lisboa, Climepsi Editores, 2012.
 
 
 



11 comentários:

  1. Agora fizeste-me lembrar o 'meu' psiquiatra. Só o via 1x por mês. Ele perguntava-me como me sentia, lia os relatórios da psicóloga por alto e passava-me as receitas lol

    ResponderEliminar
  2. Há uns anos andava com salários em atraso e comecei a "bater mal". Convenceram-me a ir a um psiquiatra e o gajo receitou-me umas gotas para meter no leite, que me deixavam tão "pedrado" que de noite levantava-me para ir à casa de banho e ia contra as paredes e contra os móveis...
    Adormecia e chegava atrasado ao emprego e uma noite acordei todo mijado. ahahah

    ResponderEliminar
  3. Sim, dizer uma coisa dessas é uma cavalidade, Colour. Há mesmo inúmeros casos de depressões que são incuráveis.

    ResponderEliminar
  4. A mim enervam-me os falsos deprimidos, que se queixam de tudo ou de nada. A depressão real assusta-me.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É preciso ter muito cuidado com esses casos. Porque há muito mais gente deprimida do que nós pensamos. Voltarei ao assunto daqui a alguns dias, para lançar alguns números. A estatística é assustadora. Há muita gente a quem nunca é diagnosticada a doença, por falta de meios, por falta de acompanhamento, por intolerância e ignorância. Mas falarei depois disso.

      Eliminar
  5. hÁ gente que não tem noção da realidade! A depressão é um assunto muito muito muito sério!

    ResponderEliminar
  6. Exactamente por não ter noção da seriedade de uma depressão, por não a levar a serio enquanto doença, andei três anos triste (eu pensava que era só tristeza e que já me havia de passar) até ter pedido ajuda. Foi preciso um ataque de panico enquanto estava a conduzir para perceber que alguma coisa estava realmente mal. Praticamente não dormia uma noite inteira há quase 3 anos, não ria, só chorava, isolei-me e o Diabo a quatro mas não sabia que estava deprimida.
    Ao contrario de um braço partido a depressão é uma doença que não se vê, mas nem por isso é menos real ou dolorosa.

    ResponderEliminar
  7. São casos muito sérios, e se alguém já teve a infelicidade de viver um de perto (ou consigo mesmo) percebe a gravidade da situação.
    Mais do que pensar que acontece só aos outros, há que pensar de que forma poderemos agir para ajudar quem passa por isso.

    ResponderEliminar
  8. Olha menina, eu sobre depressão profunda, tenho, infelizmente, um Doutoramento.
    Não eu, felizmente, mas a pessoa que provavelmente me faria mais falta na vida tem uma depressão há tantos anos quantos os que vivo.
    E digo-te que não há doença mais difícil, mais desesperante. Não vou contar pormenores sobre tudo o que passei mas sei que certamente toda a experiência me marcou e ainda me marca profundamente.
    E não, não há preparação em Portugal para nada. A pessoa em questão, quando não está completamente out devido à potentíssima medicação, está impossível de lidar.
    Enfim, é isto.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Quando falo sobre o assunto, também falo por experiência própria. Não comigo, mas com pessoas muito próximas. E que mudaram também a minha forma de estar na vida. Por isso que fico sempre muito indignada com essa gente que fala sem conhecimentos, baseada num senso comum bacoco. Sem sentido.

      Eliminar
  9. Não sei qual foi o contexto dessa frase mas quando as pessoas são deprimidas só porque têm aquela veia dramática e acham que os seus problemas são piores do que os outros, aqui também me chateia um pouco, confesso.
    Mas quando se trata de casos clinicos é algo que não deve ser criticado. A depressão é uma doença grave, destrutiva tanto para quem sofre como para quem está ao seu redor!

    ResponderEliminar