O fim do encantamento
Sou uma fã assumida da trilogia Senhor dos Anéis. Lembro-me perfeitamente de ter 16 aninhos e, numa tarde solarenga de Inverno, ir ao cinema da vila, despovoado de gente, e ver, pela primeira vez, o Senhor dos Anéis - A Irmandade do Anel.
Tudo aquilo me fascinava. Era a enredo, brilhantemente dirigido, era os figurinos celestiais, a banda sonoro magistral assinada por Howard Shore e a May it be de Enya. Tudo encaixava na perfeição.
Ao contrário da maior parte dos seguidores da história, a personagem que sempre me cativou de uma forma especial, foi o pequeno hobbit Sam. Um homem nobre, de princípios inabaláveis, fiel às suas crenças e a uma missão que tinha tudo para estar irremediavelmente perdida.
Comprei toda a trilogia, posteriormente, à medida que os filmes saiam em VHS e DVD. Tenho a colecção em VHS, ano de edição. Parece demasiado arcaico e enfadonho agora, mas, há uns anos, eu contava os tostões para comprar uma cassete. Custaram, cada uma, cerca de 25 euros.
E pronto, foi assim que conheci, pela primeira vez, o trabalho de Peter Jackson, até à data, mais um realizador quase anónimo do circuito mainstream.
Escusado será referir que fiquei eufórica com a ideia de poder ver, no grande ecrã, mais um filme baseado num livro do mundo maravilhoso de Tolkien. Desta feita O Hobbit. Não conheço a história, nunca li nada do autor, com grande pesar.
Há uma semana, numa ida ao fórum de Viseu, apercebi-me que o cartaz do filme já está afixado, com uma indicação, bem visivel, de Brevemente em Exibição.
Qual não foi o meu desencanto quando recebi uma notícia, lançada pela PETA (ler artigo), de que, durante as filmagens da longa metragem, dezenas de animais encontraram uma morte agonizante. Ao que parece, não houve o cuidado necessário para preservar os cavalos, os póneis, as ovelhas e as galinhas que aparecerão no filme. Houve, alegadamente, cavalos em sofrimento atroz, por serem obrigados a fazer cenas em subidas íngremes, com feridas visiveis de correntes, prova de que foram mantidos presos durante todo esse tempo.
Não irei ver a consagração de O Hobbit no cinema. Não vou com um pesar de fã, mas com a convicção incorrupta de uma assertiva defensora do direito dos animais. E converte-se assim a magia de Tolkien e de Peter Jackson numa homenagem post mortem a todos esses seres indefesos que se viram usados numa jornada inesperada?!